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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tempus Fugit I

X
Sed fugit interea fugit irreparabile tempus - In infinitum

Epifania de Virgílio, e que figura em "Georgicas" (cuja última parte da frase foi adicionada pelo autor deste blog) foi, de certa forma, o leitmotiv (latu sensu) daquilo que vos trago hoje, à consideração.

A reflexão sobre esta questão não surgiu de uma leitura de Wittgenstein ou mesmo Schopenhauer. Espante-se o leitor quando souber que surgiu de uma conversa de elevador (nas escadas) com o senhor Sousa, do café - que não consta ser versado em matérias filosóficas nem frequentador proeminente de tertúlias académicas.

A verdade é que nem precisa. Com uma só frase, este magro e débil ensimesmado senhor serviu-me, despercebidamente, junto com um café curto, o passaporte para as minhas divagações.

- "O tempo agora passa mais rápido", disse-me. "Não acha?"

- "Não! Não acho", respondi.

"Acho que passa à mesma velocidade. Nós é que, à medida que o tempo passa, temos mais coisas na bagagem. E isso atrasa-nos a passada, molda-nos a perspectiva, refina-nos e depois engelha"

- "Eu isso não sei", disse, com a leveza própria de um Caeiro ou de um Pequeno Príncipe de Saint-Éxupery. "O que eu sei é que dantes havia mais tempo. As coisas faziam-se devagar, não havia a pressa que há hoje. Agora é diferente, é tudo assim... apertado! Até as pessoas, andam esquisitas, perdidas, parecem sonâmbulos".

- "Nisso tem razão" confirmei, acenando levemente com a cabeça, enquanto erguia lentamente a chávena, em direcção aos lábios.

Mas, de facto, creio que nunca até agora havia, realmente, reflectido sobre esse estranho fenómeno dos nossos dias.

Espantoso como as coisas ditas por outras bocas nos podem soar tão diferentes, tão relevantes, quase proféticas.

Bizarro, esse dito sonambulismo. E apropriado, o termo: Sonambulismo [sub. masc.] Movimentos automáticos que se produzem durante o sono natural ou provocado (Priberam).

E é, na minha perspectiva, nessa teia de intrincados sistemas em que andamos emaranhados. Numa espécie de hipnotismo social, com as inerentes consequências: a deturpação do empírico, a supressão das emoções, o individualismo sintético. Por que outro motivo nós, enquanto Animalia, haveríamos de querer não procriar. De trocar o instinto maternal por uma carreira, árido deserto de sonhos, seco veio de vida - contrariando a própria natureza, e o mais básico instinto de sobrevivência da espécie. Muito especificamente o nosso código genético (estudos confirmam que a paternidade [afecto extra-corporal] e instinto de protecção da prole, está presente no ADN como mensagem subliminar para garantir a preservação da espécie.

(Claro que seria muito triste pensar na maternidade e paternidade apenas sob o ponto de vista científico. Ser pai, ser mãe, implica muito, muito mais que o simples deixar que a genética influencie os actos. É amar. E o amor não se compadece com ciências).
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Mas mesmo isso está corrompido, neste tempo em que vos escrevo. A sociedade (que somos nós) enquanto monstro-polvo, já disponibiliza novas ferramentas para mimetizar essa necessidade, esse prazer psico-fisiológico. Há consolas de jogos e LCD's (que servem, quer para preencher o lugar dos filhos, quer para ocupar os dias das crianças [se as há], quando temos que trabalhar mais e "não temos tempo" para dar atenção). E se não for o caso, há bónus e promoções para todos os gostos, acentuando a competição com o parceiro de equipa. Uns tem telemóvel e carro da empresa (que grande pinta). Outros desunham-se pelo prémio de assiduidade (que implica deixar o miúdo, com 40º de febre, em casa, sozinho com a TV, enquanto se vai enviar 3 faxes e 5 mails). Há ainda os vouchers para as massagens, e os jantarinhos pindéricos de natal!? - Sentadinhos ali, à mesa, ao lado do patrão (eia, que prestígio).

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Vale tudo! Tudo... desde que se continue em super-produção sem questionar.
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- Então e tu... foste um bom ROBOT, hoje?

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