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segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Poder do Aloe Vera

XXXIV
Já todos vimos, nas prateleiras dos super-hiper-macro mercados, produtos de variadíssima gama, contendo esse milagre: o aloe vera.
É, sem dúvida, um ingrediente misterioso e mágico. Faz lembrar um cruzamento entre a mezinha da avó, e uma descoberta farmacológica, por botânicos, que vivem há 20 anos na selva.

Este prodígio vegetal, com propriedades verdadeiramente inigualáveis, afasta toda e qualquer concorrência com facilidade. Outros vieram antes dele, mas nunca nenhum com as mesmas capacidades inesgotáveis medicinais e estéticas. Nem, tão pouco, com uma campanha publicitária tão bem sucedida.
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- Primeiro veio o ginseng, produto maravilhoso que é usado, desde há milhares de anos, por gente de todas as idades e feitios, na longínqua Ásia (China, Japão, Coreia, Vietname, Nepal, Butão, Tailândia, Cambodja, Laos) para praticamente TODAS as finalidades.
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E, convenhamos, quando comprado em embalagem, com a irresistível mística dos caracteres chineses a dourado sobre o fundo vermelho, dá-lhe logo um ar que cura - mesmo sem desembalar.

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Depois há o gingko biloba, que começou por se infiltrar nos sumos (ditos naturais), e depois num cremezito ou outro. A folha, tão característica, faz sempre questão de aparecer com grande destaque no rótulo do produto, conferindo-lhe requintes de talismã sanitário.

Mas não se fica por aqui. Fiquem os estimados sabendo que esta verdura é multifacetada: ela é infusão, é uso tópico, é gota para o ouvido, é creme para as mãos. Ai, gingko biloba, o que faria sem ti?

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E ainda: a soberana de todas as leguminosas (uma espécie de Paris Hilton do Jet 7 macrobiótico), a raínha da saúde bio-eco: a Soja!

A verdadeira e camaleónica deusa da fertilidade utilitária, da esfera leguminosa: soja em grão, em naco, em queijo, rebentos de soja, hamburguer de soja, leite de soja, molho, óleo, manteiga, e etc. Depreende-se claramente, pela extensão da sua aplicação, que não há nada que este pequenino feijão não faça, em prol da Humanidade.

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Por fim, a grande vedeta deste post, bem como de tantos inúmeros artigos que nos invadem os dias. Estamos a falar de... Aloe Vera!

Não há, neste planeta, produto NENHUM que não beneficie da presença, mesmo que seja só um vestígio ínfimo, do Aloe Vera: Iogurtes, champoos, gel, creme para as rugas, amaciador da roupa, detergentes, ambientadores, palmilhas, espuma de barbear, dentífricos, sumos, batons, cosmética, desodorizantes, perfumes...

Toda uma incrível paleta de variados items, abençoados pelo toque de Midas deste vegetal divino, desfilam pelos corredores apinhados. Não se sabe bem de onde vem, para onde vai, e o que faz aqui. Aliás, a questão que se impõe é precisamente a oposta: - o que é que o Aloe Vera NÃO faz?!? Porque, no seu vasto currículo, é sabido que não só desinfecta como nutre, tonifica, reafirma, dilui, relaxa, perfuma, alisa, protege dos insectos, cura a enxaqueca e a indigestão, o pé chato, os bicos de papagaio e afasta a malapata e o mau olhado. Para além de dar sorte, pendurado no retrovisor de um qualquer Fiat Uno branco de 92, junto aos dados felpudos violeta.

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Na minha opinião, foi um trabalho de marketing assim, que fez falta aos produtos nacionais. Não tenho dúvidas de que, se a semente da fabácea tivesse este tipo de tratamento de imagem, estaríamos agora a assistir a um boom de exportação de produtos à base de tremoço, que catapultaria o país para a abundância babilónica.

É de notar que: o tremoço, apesar de ser visto vulgarmente como um simples aperitivo, é mais nutritivo que o leite ou mesmo a carne. É rico em proteínas e vitaminas do complexo B e E, cálcio, fósforo, potássio, ferro, fibras e ácidos gordos insaturados (Ómega 3 e 6). É benéfico para os ossos. Para o bom funcionamento do trânsito intestinal. Ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue, o colesterol e ainda reduz o apetite. Mas não é tudo: Graças às suas propriedades emolientes, diuréticas e cicatrizantes, favorecem a renovação das próprias células. Cuide de Si - Consuma TREMOÇO!

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Lupinicultores do mundo inteiro: Uni-vos!

- Tremoço é FIXE, e o resto que se lixe -

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Metallica no Optimus Alive! '09

XXXIII
É verdade, meus amigos. Nós aqui no Macaquinhos no Sótão não podíamos deixar passar esta oportunidade de ver Metallica ao vivo!
Quero aproveitar a oportunidade para agradecer ao senhor Pedro Machado, a gentileza de nos possibilitar assistir a este grande espetáculo ao vivo, de bandas tão sonantes como são Mastodon, Lamb of God, Machine Head, Slipknot e os incomparáveis Metallica!
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O festival tem lugar no passeio marítimo de Algés, num recinto amplo com uma vista soberba, dividida entre a foz do Tejo e a bela Lisboa. A gestão muito organizada, garantiu que tudo funcionasse bem: desde as entradas bastante desimpedidas, apesar dos vários pontos de controlo das hordas, até às casas de banho bem atípicas de festival, poder-se-á dizer numa versão quase de luxo!
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As bandas, essas, não podiam ter estado melhor: Mastodon, desta feita, menos alcoolizados e mais afinados do que no seu último concerto a dar um tremendo espetáculo. A parede imensa de som que Machine Head criou, e a energia explosiva e o efeito cénico tão particular de Slipknot, culminou na sublimação de Metallica, que misturou muito do seu novo álbum "Death Magnetic" com outros temas de "Master of Puppets" e "Black". Complementados com uma pirotecnia ousada e sensacional, que se mostrou extraordinária quando chegou a vez de "Enter Sandman" e "Unforgiven". A fechar, quase em jeito de hino, foi "Seek and Destroy" que fez o recinto estremecer devastadoramente com o som das 40.000 pessoas presentes, a cantar em uníssono, silenciando magnanimanente e por completo o emocionado vocalista, James Hetfield.
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Mas o enviado especial do Macaquinhos ao Oeiras Alive! '09 não se ficou por aqui. E foi à procura, no festival profundo, das idiossincrasias que compõem este dia, consagrado ao Metal.
O resultado foi, no mínimo, surpreendente - e sugere uma reflexão cuidada e profunda sobre estes sinais do tempo:
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À chegada ao recinto, pelas 18 horas, a primeira impressão foi a de que - finalmente - se organizam festivais a sério. Um funcionamento excepcional: desde os socorristas a circularem de bicicleta, até aos aguadeiros versão cerveja, os passatempos radicais, impecável... Até nos depararmos com uma cena verdadeiramente bizarra:
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- Bem ao lado da típica venda de merchandising das bandas, a célebre t-shirt negra com caveiras, e meia dúzia de cd's, reparamos na quantidade exorbitante de vendedores de - pasme-se - artesanato, roupa colorida de algodão e... candeeiros!
Ora, para que raio quero eu, no meio de um dia dedicado ao Metal, de um candeeiro? E mais do que isso: onde é que vou guardar o dito candeeiro, no meio de 40.000 pessoas com trombas de urinol, aos pontapés, saltos e encontrões?
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- Outra coisa que nos perturbou foi o facto de termos gasto uma média de 40 minutos na fila para a cerveja. Isto, não só é imoral, como é uma técnica de venda escandalosa. Sabendo que a dita cerveja levaria (com aquelas condições atmosféricas) uns 20 minutos a beber, sabemos que temos de pedir imediatamente duas e ir logo para o início da fila. O que inibe grande parte da assistência de observar as performances para as quais pagaram.
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- E ainda outra imagem que nos vai ficar para o resto da vida: Depois de uma segunda incursão na maldita fila, temos à nossa frente um calmeirão, de corrente metálica e roupa de cabedal, cabelo comprido e braços tatuados - que vai vociferando uns palavrões ininteligíveis, até que chega à sua vez. Ele esboça felicidade no êxito. E, ao virar-se, reparamos que, o que ele esperou durante 40 minutos, era afinal: uma garrafinha de ÁGUA.
O HORROR, O DRAMA, A TRAGÉDIA - serão estes os fãs de Metal do amanhã? Bandos de cabeludos bebedores de água? Será que depois de fazerem xixi também vão lavar as mãos?
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- Mais à frente, outra bizarria - um stand da Volkswagen plantado bem lá no meio, com carros e tudo e tudo.
Será que estes senhores estão à espera, que no meio do concerto, eu de repente me lembre "Olha, vou ali num instante comprar uma Passat e volto já"? E se eu quiser um test-drive será que é realizado no próprio recinto? E se eu quiser, efectivamente, comprar o carro - será que têm um stock escondido, com extras e cores sortidas?
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Foram revelações verdadeiramente dramáticas. E pode imaginar-se que, no futuro, num qualquer festival Metal, alguém pode comprar um carro, colocar um candeeiro no capot, e atropelar uns aguadeiros enquanto bebe uma garrafinha de água, trauteando "Whiplash".
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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Profícua Língua

XXXII
- A vós que lograis entrar neste infecto espaço obscuro:
Abandonai todas as vossas púdicas matrizes e higiene mental!
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ADVERTÊNCIA:
O texto que se segue pode conter linguagem considerada impúdica, imprópria, ofensiva e até mesmo obscena para os leitores mais impressionáveis.
O autor DESACONSELHA vivamente a leitura deste post por crianças, pessoas sensíveis, ou àqueles que não sejam habitantes a norte do Douro!
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- Hoje é dia da rubrica linguagem popular, aqui, no digníssimo blog "Macaquinhos no Sótão". Como tal, trago-vos à consideração um aspecto invulgar de quantificação espacio-temporal, sobejamente utilizada na nossa pátria: a Língua Portuguesa.
Refiro-me - claro está - à utilização de certos vocábulos (normalmente associados à anatomia) que servem vários propósitos, de acordo com a subtileza da sua utilização, num determinado contexto e que, podem até conferir aspectos antagónicos, consoante a entoação e semântica da própria frase. Propõe-se então, meditar sobre a origem e evolução destes termos, nos seus diversos meios, e nas mais diferentes circunstâncias em que se nos deparam.
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Atentemos no seguinte:
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Há que considerar vários aspectos na utilização da linguagem. Um desses aspectos, e dos mais importantes, é o dos atributos de qualidade. Observemos então este case-study:
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Se alguém diz "isso é uma merda", sendo que a imagem utilizada serve para ilustrar o não aproveitamento de determinado material devido ao seu reduzido valor para utilização humana. Refere-se ao objecto em causa como sendo de baixa qualidade ou problemático e, portanto, desaconselhando ou revelando a sua não aquiescência.
No entanto poderá, por oposição, ser dito "ela é boa como a merda" e, aqui já há uma clara alusão ao facto da personagem em causa possuir agradáveis características, de tal forma qualitativas que dificilmente se poderá quantificar - razão pela qual se determina com este vocábulo a sua grandeza ou importância. O termo empregue na frase assume portanto um carácter abstracto mas indubitavelmente positivo.
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Confusos? - Então vejamos mais uns exemplos:
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Se, porventura, quisermos saber mais sobre a aplicação deste tipo de expressão (à primeira vista tão complexa) quando é feita referência ao peso de um dado objecto, vemos que:
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Simultânea e antagonicamente - o que não deixa de ser curioso - pode dizer-se que "é pesado como o car@£lo" ou "leve como a merda" fazendo aqui a clara distinção entre as duas opções (o que sugere que uma é, efectivamente, mais leve do que a outra, respectivamente). Revestindo-se, desta feita, de características próprias unicamente inerentes à unidade de peso.
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Ainda um outro caso, in extremis:
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- Um indivíduo pede indicações para uma determinada morada a partir do local onde se encontra. E o interlocutor responde com um vibrante: "Isso é longe como o car@£ho".
Ora, o que é que depreendemos daqui? - Que o indivíduo se encontra muítissimo afastado do local pretendido. A alusão ao órgão sexual masculino neste caso, pretende indicar um grande afastamento geográfico. Logo, possui atributos de unidade de medida, de distância.
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Porém, se por outra, for dito: "isso é perto como o car@£ho" quer dizer-se com isto precisamente o inverso do anterior. Ou seja: que já estamos praticamente nesse mesmo local.
Por outro lado, é também possível que o mesmo indivíduo receba, como resposta, a satisfeita interjeição: "isso é perto como a merda".
Que, assim empregue, pretende indicar que o local em causa é muitíssimo perto. Que é já ao fundo da rua, por exemplo. Aqui, a menção à defecação visa demonstrar a extrema proximidade entre a pessoa e o objecto observado. Pode também aplicar-se o inverso: "longe como a merda".
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É precisamente sobre a razão, que leva todo um povo, a considerar membros do corpo humano e sub-produtos da biomassa como objectos passíveis de se transmorfarem, a tal ponto que sirvam quer de unidade de distância, quer de unidade de peso, quer de característica quase adjectival de um determinado objecto ou pessoa, que interessa debruçar, reflectir. E, sob a óptica do estudo étnico e antropológico, coligir dados que sejam passíveis de interpretar e assim chegar a conclusões fundamentadas sobre esta matéria que, por tão presente no nosso imaginário e quotidiano, possui traço subliminar e que tem sido continuamente negligenciado.
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O "Macaquinhos no Sótão" propõe que se investigue a fundo esta vertente tão relevante do nosso pensamento e linguagem para que, finalmente, nos possamos assumir como uma civilização esclarecida.
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Auf Wiedersehen, Pina Bausch

XXXI
"Niemand lebt ewig.
Es ist, in der Tat, diese Schwäche in die Menschen,
das macht Sinn, in eine echte Liebe"
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Subitamente o mundo perdeu uma musa: Pina Bausch.

Com toda a beleza da sua linguagem. Com toda a complexa simplicidade que imprimia nas suas criações. Com a genialidade com que nos brindou durante os profícuos 68 anos da sua existência.
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Hoje o mundo acordou sem a extraordinária entidade que imortalizou o Wuppertal Tanztheater. Sem a criadora de peças maravilhosas, que teimavam na tendência do contra-corrente. Revestidas sempre de uma mescla de liberdade e emoção, de tal forma intensa, que nos toca excepcionalmente. Quer pela brutalidade mecânica, quer pela sensibilidade dos movimentos da sua dança. Não era arte - dizia, do que criava - Era VIDA!
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Para a eternidade fica o fantástico das suas peças, como "Kontakhof" (1980), ou "A Sagração da Primavera", "Café Müller" (1994), "Água" (2003), "Nelken" (2005), "Ten Chi", e em 2007, a deliciosa "For the Children of Yesterday and Tomorrow", apresentada no Teatro Camões. Esta coreógrafa, brilhantemente excepcional, presenteou-nos uma vez mais com a sua presença já assídua no nosso país, desta feita na Expo'98, e que a inspirou a ponto de criar uma peça sobre Lisboa, intitulada "Masurca Fogo".
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Para quem não teve a honra de a conhecer fica a - ténue mas muito justa - definição de Federico Fellini: “Uma monja com um gelado, uma santa com patins, um rosto de rainha no exílio, de fundadora de ordem religiosa, de juíza de um tribunal metafísico, que de repente nos pisca o olho...”
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Serve esta triste breve, para render homenagem a uma artista absolutamente genial, a quem o meu magro vocabulário não faz, de todo, jus. Ainda assim, e em nome de todos quantos tiveram o prazer de receber um pouco dessa magia,
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Auf Wiedersehen, Pina!
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Macaquinhos no Mundo: