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segunda-feira, 30 de março de 2009

Do you Outlet? Offshore I do!

VII
Macaquinhos no sótão, quem os não tem?

...magnífica frase baseada na célebre linha de "Cartas de Amor", esse celestial fruto do incontornável vulto poético do nosso panorama musical: o inimitável e inspirador Tony de Matos.

Há vários tipos de cartas. A saber:
- As cartas dos restaurantes (das minhas favoritas);
- As cartas de condução;
- As cartas de Tarot;
- As dos casinos;
- Ah, e também aquelas hediondas - as das contas;
- Há estas que partilhamos pela Internet
(que já nem tão-pouco são feitas de papel);
- Mas há ainda, heureusement, as nobres, delicadas e belas...
cartas de amor!

Todos as recebemos ou queríamos receber. E quantos de nós não passámos tempos a escrever e reescrevê-las o mais elegantemente possível. Cheias de sentimento, por forma a que chegassem ao destino com um toque do nosso perfume e a carga emocional desvairada de como sentíamos as coisas amorosas.

Mas agora, o que está mais na moda é o descarte!
Menos romântico e, com certeza, muito menos honesto.

"E o que significa descarte?" Perguntarão alguns!
Eu respondo: Descarte é o acto ou efeito de descartar que, neste contexto, consiste em fazer com que o destinatário não perceba muito bem a intenção ao lhe dirigirmos uma certa mensagem.
Recurso que se aplica com uma certa dose de ambiguidade e desamor em relação a um terceiro, ao "bote respiratório".

Vejamos:

Do ponto de vista político:

- O engenheiro Sócrates (que até nem é engenheiro. Ou seja: é, mas não exerce), namora o actor Diogo Infante. E anda enrolado com John Smith (quer dizer anda, mas não anda. Que isto do andar é muito subjectivo). Bom, mas se não anda já andou - diz-se - na altura em que era Ministro do Ambiente. E até aprovou o projecto do Outlet de Alcochete (não podemos dizer que é o Freeport, por uma questão de isenção).

Ora, depreende-se que, condição sine qua non para se governar inteligentemente está directamente ligado às especificidades dos graus académicos e o prestígio das instituições que os conferem.
Ou seja, a licenciatura passou a ser o novo índice de quociente de inteligência e teste vocacional tudo ao mesmo tempo. Em nada têm que ver com a genialidade ou o brilhantismo do indivíduo em causa, e respectiva assessoria mas sim com caracteres num papel caro.

De qualquer forma, o monster shopping lá está. E ao que parece até criou umas dezenas de empregos para as gentes lá da terra. Cá para mim, que até aqui desconhecia tão sinistra trama, mais não era que uma mecca de roupita em condições, a preços porreiros.
Cambalache à parte, o palrar que se vai ouvindo ecoa mais para tapar a óbvia inépcia dos restantes concorrentes do que para nos apontar a saída. É a falta de alternativas viáveis que nos faz enlodar cada vez mais neste marasmo e não este ou aquele individuo per si.


Do ponto de vista desportivo:

- O Futebol Clube do Porto só ganha os campeonatos à conta do Pinto da Costa, que até anda nos tribunais por causa de um livro Salgado (pobre Guttenberg, se ele adivinhasse). O FCP corrompe os árbitros com enchidos, fruta e penduricalhos kitsch

Constata-se que só existe corrupção a Norte do Douro e a Sul do Lima. Pelo que se verifica que nem o Benfica, nem o Sporting, nem nenhum outro clube para além do Porto e do Boavista combina resultados, nem encomenda um penalty, ou um livre a seu favor.

Mostra-se irrelevante o facto do Porto ter conquistado desde logo, em 1934, e até hoje: 23 títulos de campeão, 24 segundos lugar e 21 melhores goleadores. Para além de 34 participações consecutivas nas competições europeias (sagrados por duas vezes - em 1987 e 2004 - campeões europeus) e, a "par do Manchester United, a equipa com mais presenças na Liga dos Campeões" (curiosamente 21 dos 31 títulos ganhos pelo Benfica foram conseguidos durante o regime Salazarista).

Parece-me demais. Qual é a dificuldade em aceitar que o FC Porto tem mérito? Que é um clube que se esforça por construir equipas fortes, com visão? Não aceitar que o Porto tenha vindo a impor-se às custas do seu trabalho é tacanho, é burrice! E só vem demonstrar que a incapacidade na obtenção de vitórias nos relvados leva, desesperadamente, à procura de um qualquer prémiozito de consolação no bafio gasto das secretarias.

terça-feira, 24 de março de 2009

A mis vecinos (y amigos)

VI
Como el canto es parte inseparable de mi,
seguiré junto a la música en las calles
y en mi vida cotidiana.
No es que dejaré de cantar...
Mis vecinos y mis amigos
seguirán soportando los embates de mi voz,
que soló callará cuando me pongan la tapa de madera

Chavela Vargas


"Era uma rua, muito engraçada, não tinha pinta nem tinha nada;
Ninguém podia, viver ali, il y a des gents et maladies"

Podia ser esta a letra deste tema infantil, se a ilustre autora se tivesse inspirado aqui, nesta rua solarenga com nome de árvores do Líbano. E a verdade é que há mesmo "des gents qui a des maladies", que é como quem diz, muita boa gente com macaquinhos no sotão!

- Lembro-me do mais carismático personagem que coloria a praceta. Esse portentoso sex-symbol cá do sítio. Notório galã que enchia a vista das senhoras. Ele exibia com brio a sua exuberante penugem grisalha em estilo "roullotte" (uma espécie de moicano pimba) ao caminhar rua abaixo até ao seu bólide negro - onde ouvia o relato do benfica ou o último hit da Mónica Sintra - e uns laivos gordurosos saltitavam nos seus cachos de cabelo, acentuando as linhas fortes do rosto. Era bonito vê-lo, de camisa desabotoada, revelando o fio de ouro amarelão com um crucifixo e a tradicional figa dependurada. Chamavamos-lhe, carinhosamente, "O Ágata" só porque personificava as letras da "música contemporânea portuguesa".

- Há ainda a vizinha da casa do meio, a Sale. Ela é a verdadeira raínha da praceta. Uma espécie de agência noticiosa que sabe tudo sobre toda a gente, a qualquer hora do dia ou da noite. Tem ao seu serviço uma pequena Mata Hari, que nos vai farejando as rotinas e servindo de pretexto para meter conversa e actualizar as peças que leva para edição. Tem uma ubiquidade insondável e impressionante. E é tão amável e prestável que chega mesmo a enjoar! Demasiado ao género de Desperate Housewives, mas de bom coração! Para ti, se me estiveres a ler: até já!

- E o vizinho de cima. O que dizer dele? É como qualquer vizinho de cima: daqueles que teimam em dançar com a mobília a horas indesejáveis da noite. E insistem em partilhar connosco o programa de televisão a que estão a assistir mesmo sem o pedirmos. Mas este não é um vizinho de cima qualquer. Não! Este tem a particularidade de um obsessivo-compulsivo... como quem lava as mãos milhares de vezes ao dia, ou arruma geometricamente os objectos, este vizinho fecha a porta. E depois abre. E depois torna a fechar. E torna a abrir. E fecha, e abre, e fecha e abre... uma, duas, três. Fecha, e depois abre. Fecha outra vez, e enquanto isso conta alto: "UMA DUAS TRÊS"... e CATRAPUM, CATRAPUM, CATRAPUM as pesadas cadenas ressoam na escadaria. Hmmm, torna a abrir (não vá o diabo tecê-las). Fecha novamente. Agora a ver se dá - abre e conta "UMA, DUAS... T R Ê S !... F#)@-$&, M€%)@". - Fecha outra vez. Agora sim... quase que jurava que... mas não. Ele volta para trás. Abre! Vá, pronto só mais desta vez. É agora, é desta. Fecha com força e conTA... U M A, D U A S, T R Ê S... Grrrrauurgh...

- E, no meio deste disparate surreal quase cinematográfico (Lynch/Cronenberg) que nos rodeia, eu e a Joana conhecemos natural e agradavelmente o António e a Mónica. Casal muito sofisticado, sempre nobre e gentil. Ao início tecendo rasgados elogios aos nossos caprichados assados de verão. E depois, com a vinda do simpatiquérrimo Tiago, e depois a ternurenta Madalena, uma graça, um olhar cúmplice, um sorriso aberto, uma conversa um segundo mais demorada de cada vez... foi-se revelando tanto em comum, tão boa empatia, tanta proximidade com estas pessoas maravilhosas que foi, de todo, impossível resistir ao seu charme.

E vai daí, o copo que eu e o António nunca tomámos, acabou por se transformar no jantar mais giro de que há memória nos últimos tempos (com 9 horas à conversa, no primeiro, e 6 no segundo... e ainda tanto - tanto - para dizermos uns aos outros)...

Sei que se vão embora daqui. Que vão para uma casa maior, com mais espaço para serem felizes. E fico muito contente por eles, no meio desta saudade que já sinto. Só lamento que esse sítio para onde vão não seja já aqui, ao cimo das escadas, para que possa espreitar e acenar-lhes: Bom dia!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Vento quente, Pele nua

V
Depois de te ter
Para quê estradas se és tu
O meu caminho.

Para quê estrelas, se os teus
Olhos povoam as minhas noites.

Para quê um sol se é o teu sorriso
Que me acende os dias.

Para quê jardins, se as tuas mãos
Exalam o perfume das flores.

Para quê o mar se é o teu suor
A cobrir de sal e prazer todo o meu corpo.

Para quê a chuva, se a tua boca
Inunda a minha alma,
E me encharca de paixão.

terça-feira, 17 de março de 2009

Liber de Infantia

IV
Passa… como um comboio a vapor,
de vagões férreos, frios a chiar.
Um arrepio na partida.
Olho, ninguém na estação
A quem caiba acenar.

Retine em mim o apito: priiii...
dura toda uma eternidade.
Quem dera não parar,
Nesse distante lado nenhum
Onde não há tempo ou saudade.

Quero tanto saber sorrir,
ao crescer no meio da espera
que nos leva a inocência à força
e embriaga de silêncios
a dança final do último entardecer.

Desenho flores com os pés,
até se apagarem no ar.
Diluo-me como num sonho, torno-me nele.
De tudo isto preciso para ser completo,
de tudo isto quero só, não só fazer parte.

Mas antes de, finalmente Mãe, partir...
Tropeço no mesmo apeadeiro em que te perco
Neste des-oriente em que transbordo e repenso

Diz-me, se me levante eléctrico em revolta
Ou se encontre em mim, neste lento comboio de corda
A força da paz que preciso, para te dar de presente

Ah, pobre de mim que penso: pobre de mim!
Pobre de mim por saber, que nem pobre sou.

Que nem sei ser só uma máquina, que é quanto basta
Para que a ignorância me bata à porta e sorria

E eu abra à confiança. Sem matemática complexa
Nem métrica louca, nem morte ou esperança.

Tudo em tudo, Mãe, tudo em tudo
Só quero ser de novo uma criança!

Filipe Pinto (2007)

Adeus pequenito

III
Eu já fui pequenito!

Por incrível que o tempo o faça parecer, é verdade.
E lembro-me tanto disso, ao ver as crianças correr.
A sonhar, a fazer disparates, a inventar brincadeiras.
"São como um bando de pardais à solta", capitães da areia, piratas. Índios e "cóbois", polícias e ladrões. São seres iluminados!
Misturo todas as emoções e deixo-me invadir, lânguido, pela doce nostalgia desses tempos coloridos. Pela magia dos meus 5 anos.

Como tudo era fácil nessa altura. Tudo risonho, tudo bonito, tudo simples. Fazia-se amigos em qualquer lugar, brincava-se onde quer que se fosse. A primeira aventura da ida à praia. O cheiro a relva molhada sob os pés descalços. Os pic-nics solarengos com os meus pais. As histórias maravilhosas que a Mammi me contava. As músicas deliciosas que cantava sem perceber a letra. A luta por não querer dormir a soneca da tarde. O horror de ir "levar uma pica" e as palhaçadas que o Pappi fazia quando eu estava doente - que me rasgavam sempre em risos. Os segredos traquinas com os primos. O chapinhar nas poças de água com as minhas galochas verdes com olhos de sapo e impermeável a condizer. As namoradas da minha sala da primária. A bola, os legos, a caderneta de cromos e os desenhos animados no único canal que havia na televisão...

E os meus avós, cúmplices, e que sabiam sempre do que eu gostava.
A minha avó que me levava com ela para o campo comer cenourinhas arrancadas da terra e lavadas no riacho. E que aguardava pacientemente que eu visse as rãs saltar para o lago, demorasse o tempo que demorasse, naquele pedaço de mundo com cheiro a flores.
O meu avô que me deixava usar a boina dele, e que mesmo quando lhe escondia as ferramentas, não se aborrecia comigo. Ele andava comigo às "cavaluchas", mesmo quando já estava cansado.
A minha tia Nanda, com quem ia passear, e sob um pretexto qualquer, me comprava bombocas.
O meu tio Mário que eu via como uma personagem de banda-desenhada. E a quem, eu e o meu primo Jorge, roubámos os primeiros cigarros (Gitanes - blherrc) - o enjoo horrível que nos deu!
O meu tio António, que me lembro como se fosse hoje, com uma máscara de gato virada ao contrário e as orelhas de fora, a afagar as cordas da guitarra enquanto cantava docemente, até ao soninho embalado dar lugar aos sonhos com princesas, monstros e heróis.

A todos quanto fizeram da minha infância o pedaço de vida mais bonito de todos, aqui fica o meu pequenino contributo em jeito de homenagem: Obrigado por fazerem de mim um homem tão feliz!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Opus Diaboli

II
Há cerca de um mês que, lá por casa, as coisas andam todas de pernas para o ar - literalmente.
É assim normalmente, quando decidimos num belo dia, que não estamos bem com a vida que temos - partindo à procura de sarna para nos coçar (manifesta falta de juízo, obviamente)!
Foi, por voluntário desassossego, que eu e a Joana tomamos a decisão de remodelar a cozinha (realmente já estava um pouco amarrotada, a coitada, e bem a precisar de um lift às suas rugas).

"Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce"
Diz mestre Pessoa no seu Infante.

E, enlevado pelo poder mágico destas palavras, este vosso bardo achou por bem pôr as "mãos à obra" (ora aqui está um trocadilho bem foleiro) e avançar com este fenómeno ilustrador do popularucho cliché (se não o são todos) "Obras de Sta. Engrácia"...

1º Passo:
Aprender esse dialecto hermético dos trabalhadores da construção;
2º Passo:
Contactar com meia-dúzia de "indebíduos" e pedir orçamentos;

3º Passo:
Escovar bem o cérebro depois destes dois últimos passos!

4º Passo:
Repetir com minúcia o passo anterior;

5º Passo:
Esperar...

- O primeiro "macaco do andaime" (como ouvi um dizer), era um sexagenário sabidola (não confundir com sebadola [de raiz sebo] erro que não seria difícil de cometer) que aproveitou a nossa nula experiência nestas matérias para esticar de tal forma o prazo de conclusão da empreitada, que me levou a pensar se não seria melhor abater o custo (exorbitante) da obra, no arrendamento que ia ter de lhe fazer pelo tempo que ia passar chez nous!

- O segundo espécimen acabou por ser um moldavo de 30 anos, com formação em engenharia que, não só estimou (com muita precisão) o termo da obra em 1/3 do tempo do supra-citado, como emagreceu, na mesma proporção, os custos também!

Posto isto, lá decidimos, que apesar de toda a simpatia e apreço pelo nosso compatriota, acabamos por sentir ainda mais simpatia e mais apreço pelos nossos não-abundantes euros!
O inferno manifestou-se inicialmente pela natural "des-arrumação" da miríade de tralhas, umas obsoletas outras nem tanto, infestantes dos armários de qualquer cozinha pelo mundo fora, apenas para os encaixar (conforme nos foi humanamente possível) em todas as outras divisões da casa, eliminando assim toda e qualquer hipótese de preservar um reduto de paz e conforto.
Assim começou a saga pestilenta de poeira em tudo quanto é fresta, relevo, bibelot, peça de roupa e tal... que transformou o espaço, malheureusement não num spa, mas num spó!

De tal forma que, a certa altura, deixei de usar escova de dentes e passei a utilizar um martelo pneumático! Muito por causa da dieta à base de cheeseburgers e nuggets impregnados de cimento-cola e pó vermelho miudinho dos azulejos - não obstante os milagres gastronómicos que a Joana ainda conseguiu operar muito lá ao início (bem hajas, minha querida, por aqueles lombinhos com natas e queijo gratinado delicioso que nesta altura já são só uma miragem).
* * *
Agora, que faltarão apenas uma ou duas semanas para tudo isto acabar, decidi apagar os riscos a giz que ia desesperadamente desenhando, como um recluso, nas paredes da minha própria prisão.

Nós e Eles

I

- Eles andam aí.

E já todos os vimos, ou então, pelo menos já ouvimos falar.
Há sempre um amigo do primo do nosso vizinho que até conhece muito bem um d'Eles.

E Eles, meus amigos, sabem TUDO!

- Eles dizem que o tempo vai mudar, e pimba!, muda mesmo
(ou então não muda, mas isso é mesmo assim ?!?);
- Eles também dizem que a taxa Euribor vai subir e sobe mesmo
(a menos que os bancos entrem em ruptura e as falências comecem a ceifar meia-dúzia de pequenas fortunas que se alimentam de outra meia-dúzia de milhões de não-fortunas);
- Eles fazem questão de encher umas quantas capas de revista, (enquanto essas tais falências e desemprego ensombram o quotidiano dos pobrezinhos) com reportagens intensivas sobre a fulana que se divorciou daquele da telenovela, e que está grávida.
Sabem-no até mesmo antes de ela própria saber disso.
E se, com efeito não estava (afinal era só uma sweatshirt roubada na Mango), a pobre criatura acha de tal forma que devia ser mamã, que acaba mesmo por ter duas criancinhas a quem chama carinhosamente Mikael e Ronaldo - os seus ídolos secretos;

De resto, Eles sabem de tudo e mandam os bitaites que lhes ocorre na altura, sem responsabilidade nem a preocupação da desinformação do público em geral, e de si próprios em particular.
Pronunciam-se com um pedantismo que lhes é típico, sempre muito assertivos (a ver se ninguém desconfia da banha da cobra que nos tentam impingir recorrentemente).

Discutem sobre a religião.

E sobre o casamento gay.

E sobre os gays religiosos.

E sobre a religião gay

(de que há indícios de constituir uma espécie de maçonaria, com práticas satânicas)

Imediatamente é contactado Alberto João Jardim para uma conferência por satélite sobre o tema:

Os cubanos gays e a maçonaria no continente.

Enquanto isso, passam em rodapé a notícia que prende a atenção do espectador quando o discurso já cansa...

"um gerente de frutaria de 45 anos foi hoje ferido com gravidade, na sequência de um ataque com pastéis de bacalhau e croquetes com calibre de guerra de fabrico brasileiro, em pleno dia na rua principal da Baixa da Banheira.
Sabe-se que na origem da disputa esteve um par de peúgas com raquetes bordadas, que terão sido furtadas pela vítima, do cabaz de natal, da rifa premiada do atacante
."

Já agora aproveitam e misturam o ÚNICO dirigente desportivo corrupto, com flatulência, e uma prostituta arrependida, agora em programa de "protecção de testemunhas" numa nova versão do Big Brother. Conta ainda com a participação especial de Bibi a fazer pole dance, em preparos de fio dental tigresa, e do carismático Zézé Camarinha ministrando um workshop de "put-a crime on foreign affairs", levado à letra. Tudo isto brilhantemente apresentado pela Júlia Pinheiro, essa verdadeira Oprah Winfrey à portuguesa.

Eles são engenheiros civis - perdão, engenheiros técnicos, não, civis...bom!

Experts em matéria de etiqueta e protocolo de estado.

A postura da Casa Branca quanto à possibilidade de diálogo com líderes palestinianos

Alguns são até formados em Relações Internacionais, o que lhes permite apoiar sem qualquer problema de consciência, o bombardeamento de uma facção em detrimento da outra, que calhou possuírem oil.go* que se quer. (* leia-se: algo!)

- Porquê? - Ora essa, porque é um bombardeamento justificado! (afinal de contas os outros é que são os maus).

- Criancinhas? Quais criancinhas? Mas os terroristas também têm criancinhas?...
Então vamos bombardeá-los duas vezes, para as salvar do "Eixo do Mal"!

Alguns populares avançaram ao "Macaquinhos" que, desde que a administração Bush, com a conivência da UE, bombardeou o seu governo, se sentem "mais a arder que nunca"!

Eles, meus amigos, são astrólogos, videntes, médiuns e curandeiros. E estão por todo o lado.
Vestem fato riscado com "gravatinha" colorida em tons de roxo, que está muito na moda.
Outros também usam fato, mas esses é mais macaco - mas isso também não interessa nada porque todos têm o seu palpite e estão muito certos das suas epifanias de algibeira.

Entram-nos pelos dias dentro, a todas as horas, em qualquer lugar.

Gozam de imunidade para sequestrar o nosso tempo e os nossos pensamentos com essas rubricas ceboleiras e provincianas com que nos envenenam o espírito.

São como treinadores de bancada analfabrutos, opinion makers de cachimbo morno e laço sintético, intelectualóides foleiros. Em suma: uns pirosos sem substância.

Juntam-se na televisão, na rádio e na cassete pirata.
Arrastam o seu visco pelas páginas da minha amada imprensa.
Entram-nos pelos olhos dentro com as suas tretas balofas e patéticas, ornamentadas com modernos erros hortagráfikox, a conferir maior beleza ao conteúdo ou à ausência dele.

Com efeito: Eles sabem. E se sabem é porque andam aí.

Até porque nem consta que alguém lhes vá dizer seja o que for - antes pelo contrário.

Eles é que nos dizem o que está para acontecer...

Como um ditado da primária, essa espécie de profetas do Restelo (que apontam o dedo mas não sugerem alternativas), vão vomitando umas quaisquer postas-de-pescada que muito nos surpreendem pela sua inverosimilidade, mas que aceitamos com igual e inabalável ingenuidade

- Ah sim? Ora vejam lá. Não sabia!
- Pois... mas olhe que se Eles dizem, é porque é... Eles é que sabem.

- Quê? Quer saber mais do que Eles?!?
- Não... Eles é que são os senhores dos gabinetes, sabe, lá do "coiso"! por isso...

***

A verdade é que muito havia para dizer sobre Eles, mas agora... não temos tempo.

Ainda assim julgo que a mais perigosa/vergonhosa constatação não é que eles andem no meio de nós, mas sim que, com a nossa cumplicidade, Eles também SOMOS nós!

Macaquinhos no Mundo: