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sexta-feira, 13 de março de 2009

Opus Diaboli

II
Há cerca de um mês que, lá por casa, as coisas andam todas de pernas para o ar - literalmente.
É assim normalmente, quando decidimos num belo dia, que não estamos bem com a vida que temos - partindo à procura de sarna para nos coçar (manifesta falta de juízo, obviamente)!
Foi, por voluntário desassossego, que eu e a Joana tomamos a decisão de remodelar a cozinha (realmente já estava um pouco amarrotada, a coitada, e bem a precisar de um lift às suas rugas).

"Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce"
Diz mestre Pessoa no seu Infante.

E, enlevado pelo poder mágico destas palavras, este vosso bardo achou por bem pôr as "mãos à obra" (ora aqui está um trocadilho bem foleiro) e avançar com este fenómeno ilustrador do popularucho cliché (se não o são todos) "Obras de Sta. Engrácia"...

1º Passo:
Aprender esse dialecto hermético dos trabalhadores da construção;
2º Passo:
Contactar com meia-dúzia de "indebíduos" e pedir orçamentos;

3º Passo:
Escovar bem o cérebro depois destes dois últimos passos!

4º Passo:
Repetir com minúcia o passo anterior;

5º Passo:
Esperar...

- O primeiro "macaco do andaime" (como ouvi um dizer), era um sexagenário sabidola (não confundir com sebadola [de raiz sebo] erro que não seria difícil de cometer) que aproveitou a nossa nula experiência nestas matérias para esticar de tal forma o prazo de conclusão da empreitada, que me levou a pensar se não seria melhor abater o custo (exorbitante) da obra, no arrendamento que ia ter de lhe fazer pelo tempo que ia passar chez nous!

- O segundo espécimen acabou por ser um moldavo de 30 anos, com formação em engenharia que, não só estimou (com muita precisão) o termo da obra em 1/3 do tempo do supra-citado, como emagreceu, na mesma proporção, os custos também!

Posto isto, lá decidimos, que apesar de toda a simpatia e apreço pelo nosso compatriota, acabamos por sentir ainda mais simpatia e mais apreço pelos nossos não-abundantes euros!
O inferno manifestou-se inicialmente pela natural "des-arrumação" da miríade de tralhas, umas obsoletas outras nem tanto, infestantes dos armários de qualquer cozinha pelo mundo fora, apenas para os encaixar (conforme nos foi humanamente possível) em todas as outras divisões da casa, eliminando assim toda e qualquer hipótese de preservar um reduto de paz e conforto.
Assim começou a saga pestilenta de poeira em tudo quanto é fresta, relevo, bibelot, peça de roupa e tal... que transformou o espaço, malheureusement não num spa, mas num spó!

De tal forma que, a certa altura, deixei de usar escova de dentes e passei a utilizar um martelo pneumático! Muito por causa da dieta à base de cheeseburgers e nuggets impregnados de cimento-cola e pó vermelho miudinho dos azulejos - não obstante os milagres gastronómicos que a Joana ainda conseguiu operar muito lá ao início (bem hajas, minha querida, por aqueles lombinhos com natas e queijo gratinado delicioso que nesta altura já são só uma miragem).
* * *
Agora, que faltarão apenas uma ou duas semanas para tudo isto acabar, decidi apagar os riscos a giz que ia desesperadamente desenhando, como um recluso, nas paredes da minha própria prisão.

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