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terça-feira, 24 de março de 2009

A mis vecinos (y amigos)

VI
Como el canto es parte inseparable de mi,
seguiré junto a la música en las calles
y en mi vida cotidiana.
No es que dejaré de cantar...
Mis vecinos y mis amigos
seguirán soportando los embates de mi voz,
que soló callará cuando me pongan la tapa de madera

Chavela Vargas


"Era uma rua, muito engraçada, não tinha pinta nem tinha nada;
Ninguém podia, viver ali, il y a des gents et maladies"

Podia ser esta a letra deste tema infantil, se a ilustre autora se tivesse inspirado aqui, nesta rua solarenga com nome de árvores do Líbano. E a verdade é que há mesmo "des gents qui a des maladies", que é como quem diz, muita boa gente com macaquinhos no sotão!

- Lembro-me do mais carismático personagem que coloria a praceta. Esse portentoso sex-symbol cá do sítio. Notório galã que enchia a vista das senhoras. Ele exibia com brio a sua exuberante penugem grisalha em estilo "roullotte" (uma espécie de moicano pimba) ao caminhar rua abaixo até ao seu bólide negro - onde ouvia o relato do benfica ou o último hit da Mónica Sintra - e uns laivos gordurosos saltitavam nos seus cachos de cabelo, acentuando as linhas fortes do rosto. Era bonito vê-lo, de camisa desabotoada, revelando o fio de ouro amarelão com um crucifixo e a tradicional figa dependurada. Chamavamos-lhe, carinhosamente, "O Ágata" só porque personificava as letras da "música contemporânea portuguesa".

- Há ainda a vizinha da casa do meio, a Sale. Ela é a verdadeira raínha da praceta. Uma espécie de agência noticiosa que sabe tudo sobre toda a gente, a qualquer hora do dia ou da noite. Tem ao seu serviço uma pequena Mata Hari, que nos vai farejando as rotinas e servindo de pretexto para meter conversa e actualizar as peças que leva para edição. Tem uma ubiquidade insondável e impressionante. E é tão amável e prestável que chega mesmo a enjoar! Demasiado ao género de Desperate Housewives, mas de bom coração! Para ti, se me estiveres a ler: até já!

- E o vizinho de cima. O que dizer dele? É como qualquer vizinho de cima: daqueles que teimam em dançar com a mobília a horas indesejáveis da noite. E insistem em partilhar connosco o programa de televisão a que estão a assistir mesmo sem o pedirmos. Mas este não é um vizinho de cima qualquer. Não! Este tem a particularidade de um obsessivo-compulsivo... como quem lava as mãos milhares de vezes ao dia, ou arruma geometricamente os objectos, este vizinho fecha a porta. E depois abre. E depois torna a fechar. E torna a abrir. E fecha, e abre, e fecha e abre... uma, duas, três. Fecha, e depois abre. Fecha outra vez, e enquanto isso conta alto: "UMA DUAS TRÊS"... e CATRAPUM, CATRAPUM, CATRAPUM as pesadas cadenas ressoam na escadaria. Hmmm, torna a abrir (não vá o diabo tecê-las). Fecha novamente. Agora a ver se dá - abre e conta "UMA, DUAS... T R Ê S !... F#)@-$&, M€%)@". - Fecha outra vez. Agora sim... quase que jurava que... mas não. Ele volta para trás. Abre! Vá, pronto só mais desta vez. É agora, é desta. Fecha com força e conTA... U M A, D U A S, T R Ê S... Grrrrauurgh...

- E, no meio deste disparate surreal quase cinematográfico (Lynch/Cronenberg) que nos rodeia, eu e a Joana conhecemos natural e agradavelmente o António e a Mónica. Casal muito sofisticado, sempre nobre e gentil. Ao início tecendo rasgados elogios aos nossos caprichados assados de verão. E depois, com a vinda do simpatiquérrimo Tiago, e depois a ternurenta Madalena, uma graça, um olhar cúmplice, um sorriso aberto, uma conversa um segundo mais demorada de cada vez... foi-se revelando tanto em comum, tão boa empatia, tanta proximidade com estas pessoas maravilhosas que foi, de todo, impossível resistir ao seu charme.

E vai daí, o copo que eu e o António nunca tomámos, acabou por se transformar no jantar mais giro de que há memória nos últimos tempos (com 9 horas à conversa, no primeiro, e 6 no segundo... e ainda tanto - tanto - para dizermos uns aos outros)...

Sei que se vão embora daqui. Que vão para uma casa maior, com mais espaço para serem felizes. E fico muito contente por eles, no meio desta saudade que já sinto. Só lamento que esse sítio para onde vão não seja já aqui, ao cimo das escadas, para que possa espreitar e acenar-lhes: Bom dia!

1 comentário:

  1. Não fosse o facto de estar na redacção, estaria certamente a rebolar no chão de tanto rir com a história da Sale, ou com o cabelo gorduroso do ex-vizinho, ou com o som vigoroso de "uma duas três" de alguém que me está tão próximo... infelizmente! Como não posso rebolar, até porque não sou o guedes, basta-me rir para dentro, divertir-me com a cumplicidade criada em tão pouco tempo, ansiar pela próxima jantarada, ficar feliz com os laços já firmes que ainda agora se começaram a criar. E eu que nunca dei confiança a vizinhos... Dão-me um pézinho de salsa?!

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