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sexta-feira, 13 de março de 2009

Nós e Eles

I

- Eles andam aí.

E já todos os vimos, ou então, pelo menos já ouvimos falar.
Há sempre um amigo do primo do nosso vizinho que até conhece muito bem um d'Eles.

E Eles, meus amigos, sabem TUDO!

- Eles dizem que o tempo vai mudar, e pimba!, muda mesmo
(ou então não muda, mas isso é mesmo assim ?!?);
- Eles também dizem que a taxa Euribor vai subir e sobe mesmo
(a menos que os bancos entrem em ruptura e as falências comecem a ceifar meia-dúzia de pequenas fortunas que se alimentam de outra meia-dúzia de milhões de não-fortunas);
- Eles fazem questão de encher umas quantas capas de revista, (enquanto essas tais falências e desemprego ensombram o quotidiano dos pobrezinhos) com reportagens intensivas sobre a fulana que se divorciou daquele da telenovela, e que está grávida.
Sabem-no até mesmo antes de ela própria saber disso.
E se, com efeito não estava (afinal era só uma sweatshirt roubada na Mango), a pobre criatura acha de tal forma que devia ser mamã, que acaba mesmo por ter duas criancinhas a quem chama carinhosamente Mikael e Ronaldo - os seus ídolos secretos;

De resto, Eles sabem de tudo e mandam os bitaites que lhes ocorre na altura, sem responsabilidade nem a preocupação da desinformação do público em geral, e de si próprios em particular.
Pronunciam-se com um pedantismo que lhes é típico, sempre muito assertivos (a ver se ninguém desconfia da banha da cobra que nos tentam impingir recorrentemente).

Discutem sobre a religião.

E sobre o casamento gay.

E sobre os gays religiosos.

E sobre a religião gay

(de que há indícios de constituir uma espécie de maçonaria, com práticas satânicas)

Imediatamente é contactado Alberto João Jardim para uma conferência por satélite sobre o tema:

Os cubanos gays e a maçonaria no continente.

Enquanto isso, passam em rodapé a notícia que prende a atenção do espectador quando o discurso já cansa...

"um gerente de frutaria de 45 anos foi hoje ferido com gravidade, na sequência de um ataque com pastéis de bacalhau e croquetes com calibre de guerra de fabrico brasileiro, em pleno dia na rua principal da Baixa da Banheira.
Sabe-se que na origem da disputa esteve um par de peúgas com raquetes bordadas, que terão sido furtadas pela vítima, do cabaz de natal, da rifa premiada do atacante
."

Já agora aproveitam e misturam o ÚNICO dirigente desportivo corrupto, com flatulência, e uma prostituta arrependida, agora em programa de "protecção de testemunhas" numa nova versão do Big Brother. Conta ainda com a participação especial de Bibi a fazer pole dance, em preparos de fio dental tigresa, e do carismático Zézé Camarinha ministrando um workshop de "put-a crime on foreign affairs", levado à letra. Tudo isto brilhantemente apresentado pela Júlia Pinheiro, essa verdadeira Oprah Winfrey à portuguesa.

Eles são engenheiros civis - perdão, engenheiros técnicos, não, civis...bom!

Experts em matéria de etiqueta e protocolo de estado.

A postura da Casa Branca quanto à possibilidade de diálogo com líderes palestinianos

Alguns são até formados em Relações Internacionais, o que lhes permite apoiar sem qualquer problema de consciência, o bombardeamento de uma facção em detrimento da outra, que calhou possuírem oil.go* que se quer. (* leia-se: algo!)

- Porquê? - Ora essa, porque é um bombardeamento justificado! (afinal de contas os outros é que são os maus).

- Criancinhas? Quais criancinhas? Mas os terroristas também têm criancinhas?...
Então vamos bombardeá-los duas vezes, para as salvar do "Eixo do Mal"!

Alguns populares avançaram ao "Macaquinhos" que, desde que a administração Bush, com a conivência da UE, bombardeou o seu governo, se sentem "mais a arder que nunca"!

Eles, meus amigos, são astrólogos, videntes, médiuns e curandeiros. E estão por todo o lado.
Vestem fato riscado com "gravatinha" colorida em tons de roxo, que está muito na moda.
Outros também usam fato, mas esses é mais macaco - mas isso também não interessa nada porque todos têm o seu palpite e estão muito certos das suas epifanias de algibeira.

Entram-nos pelos dias dentro, a todas as horas, em qualquer lugar.

Gozam de imunidade para sequestrar o nosso tempo e os nossos pensamentos com essas rubricas ceboleiras e provincianas com que nos envenenam o espírito.

São como treinadores de bancada analfabrutos, opinion makers de cachimbo morno e laço sintético, intelectualóides foleiros. Em suma: uns pirosos sem substância.

Juntam-se na televisão, na rádio e na cassete pirata.
Arrastam o seu visco pelas páginas da minha amada imprensa.
Entram-nos pelos olhos dentro com as suas tretas balofas e patéticas, ornamentadas com modernos erros hortagráfikox, a conferir maior beleza ao conteúdo ou à ausência dele.

Com efeito: Eles sabem. E se sabem é porque andam aí.

Até porque nem consta que alguém lhes vá dizer seja o que for - antes pelo contrário.

Eles é que nos dizem o que está para acontecer...

Como um ditado da primária, essa espécie de profetas do Restelo (que apontam o dedo mas não sugerem alternativas), vão vomitando umas quaisquer postas-de-pescada que muito nos surpreendem pela sua inverosimilidade, mas que aceitamos com igual e inabalável ingenuidade

- Ah sim? Ora vejam lá. Não sabia!
- Pois... mas olhe que se Eles dizem, é porque é... Eles é que sabem.

- Quê? Quer saber mais do que Eles?!?
- Não... Eles é que são os senhores dos gabinetes, sabe, lá do "coiso"! por isso...

***

A verdade é que muito havia para dizer sobre Eles, mas agora... não temos tempo.

Ainda assim julgo que a mais perigosa/vergonhosa constatação não é que eles andem no meio de nós, mas sim que, com a nossa cumplicidade, Eles também SOMOS nós!

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