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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Profícua Língua

XXXII
- A vós que lograis entrar neste infecto espaço obscuro:
Abandonai todas as vossas púdicas matrizes e higiene mental!
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ADVERTÊNCIA:
O texto que se segue pode conter linguagem considerada impúdica, imprópria, ofensiva e até mesmo obscena para os leitores mais impressionáveis.
O autor DESACONSELHA vivamente a leitura deste post por crianças, pessoas sensíveis, ou àqueles que não sejam habitantes a norte do Douro!
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- Hoje é dia da rubrica linguagem popular, aqui, no digníssimo blog "Macaquinhos no Sótão". Como tal, trago-vos à consideração um aspecto invulgar de quantificação espacio-temporal, sobejamente utilizada na nossa pátria: a Língua Portuguesa.
Refiro-me - claro está - à utilização de certos vocábulos (normalmente associados à anatomia) que servem vários propósitos, de acordo com a subtileza da sua utilização, num determinado contexto e que, podem até conferir aspectos antagónicos, consoante a entoação e semântica da própria frase. Propõe-se então, meditar sobre a origem e evolução destes termos, nos seus diversos meios, e nas mais diferentes circunstâncias em que se nos deparam.
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Atentemos no seguinte:
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Há que considerar vários aspectos na utilização da linguagem. Um desses aspectos, e dos mais importantes, é o dos atributos de qualidade. Observemos então este case-study:
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Se alguém diz "isso é uma merda", sendo que a imagem utilizada serve para ilustrar o não aproveitamento de determinado material devido ao seu reduzido valor para utilização humana. Refere-se ao objecto em causa como sendo de baixa qualidade ou problemático e, portanto, desaconselhando ou revelando a sua não aquiescência.
No entanto poderá, por oposição, ser dito "ela é boa como a merda" e, aqui já há uma clara alusão ao facto da personagem em causa possuir agradáveis características, de tal forma qualitativas que dificilmente se poderá quantificar - razão pela qual se determina com este vocábulo a sua grandeza ou importância. O termo empregue na frase assume portanto um carácter abstracto mas indubitavelmente positivo.
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Confusos? - Então vejamos mais uns exemplos:
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Se, porventura, quisermos saber mais sobre a aplicação deste tipo de expressão (à primeira vista tão complexa) quando é feita referência ao peso de um dado objecto, vemos que:
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Simultânea e antagonicamente - o que não deixa de ser curioso - pode dizer-se que "é pesado como o car@£lo" ou "leve como a merda" fazendo aqui a clara distinção entre as duas opções (o que sugere que uma é, efectivamente, mais leve do que a outra, respectivamente). Revestindo-se, desta feita, de características próprias unicamente inerentes à unidade de peso.
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Ainda um outro caso, in extremis:
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- Um indivíduo pede indicações para uma determinada morada a partir do local onde se encontra. E o interlocutor responde com um vibrante: "Isso é longe como o car@£ho".
Ora, o que é que depreendemos daqui? - Que o indivíduo se encontra muítissimo afastado do local pretendido. A alusão ao órgão sexual masculino neste caso, pretende indicar um grande afastamento geográfico. Logo, possui atributos de unidade de medida, de distância.
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Porém, se por outra, for dito: "isso é perto como o car@£ho" quer dizer-se com isto precisamente o inverso do anterior. Ou seja: que já estamos praticamente nesse mesmo local.
Por outro lado, é também possível que o mesmo indivíduo receba, como resposta, a satisfeita interjeição: "isso é perto como a merda".
Que, assim empregue, pretende indicar que o local em causa é muitíssimo perto. Que é já ao fundo da rua, por exemplo. Aqui, a menção à defecação visa demonstrar a extrema proximidade entre a pessoa e o objecto observado. Pode também aplicar-se o inverso: "longe como a merda".
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É precisamente sobre a razão, que leva todo um povo, a considerar membros do corpo humano e sub-produtos da biomassa como objectos passíveis de se transmorfarem, a tal ponto que sirvam quer de unidade de distância, quer de unidade de peso, quer de característica quase adjectival de um determinado objecto ou pessoa, que interessa debruçar, reflectir. E, sob a óptica do estudo étnico e antropológico, coligir dados que sejam passíveis de interpretar e assim chegar a conclusões fundamentadas sobre esta matéria que, por tão presente no nosso imaginário e quotidiano, possui traço subliminar e que tem sido continuamente negligenciado.
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O "Macaquinhos no Sótão" propõe que se investigue a fundo esta vertente tão relevante do nosso pensamento e linguagem para que, finalmente, nos possamos assumir como uma civilização esclarecida.
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4 comentários:

  1. que é o que acontece com os que sejamos habitantes ao norte do douro, incluso ao norte do minho?

    um saudo

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  2. Estimado lector,
    Es con gran placer que recibo, en nombre de los Monos en el Ático, a su agradable visita.
    No hay fronteras que dividen las ideas o el amor, y por lo tanto, la única cosa que queda son los vínculos que se crean con los vecinos, hermanos y compañeros de nuestro planeta.
    Quiero que sepa que aquí encontrara un espacio donde siempre sera bienvenido, y donde su participacion se considera SIEMPRE.
    Aunque este post tienga un caracter mas regional, estoy seguro de que encontrara otros que le gustara.
    Gracias por la visita,

    Saludos

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  3. chamo-me Elena, sou da Galiza é encontro o seu blog um site muito engraçado! estaba a brincar!

    voltarei!

    os meus cumprimentos,
    elena....

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  4. E eu, que sou uma gaja do norte e até li - e adorei - as 'explicações de português' do MEC... AMEI este seu post, meu caro!

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