XXIII
Foi em Janeiro de 2008, que entrou em vigor a lei, que impede "o acto de fumar, chupar ou mascar um produto à base de tabaco", nos restaurantes, bares, discotecas, recintos de espectáculos, e mais.
E, assim de repente, não me consigo lembrar de nenhum outro produto no mercado, em que o fabricante anuncie que aquilo mata, e as pessoas o continuem a consumir despreocupadamente.
De facto, este é um fenómeno assaz curioso. O acto de fumar. - É o quê, concretamente? - Em que consiste este ritual suicida?
O tabaco é uma planta, do género Nicotiana, e é originária da América do Sul, à qual, os povos autóctones, atribuiam poderes curativos mágicos. Foi introduzida nas cortes reais Europeias, no século XVI, por navegadores espanhóis e ingleses.
Embora esta seja a teoria mais comummente aceite, outras há que, visam indicar a sua origem na Ásia (como é o caso do escritor Lotario Becker), alegadamente levada, em tempos muito remotos, para o Novo Mundo. E, demonstra que na Pérsia, por exemplo, cultivou-se e fumou-se uma ou mais espécies de tabaco, muito antes da descoberta da América.
Outras teorias dão a planta como sendo africana, pelo facto de não ser crível que este vegetal se pudesse generalizar tanto em todo o continente, e enraizar-se nos costumes dos povos - apenas depois - da descoberta da América.
Há também posições que defendem a sua origem no norte da Austrália, citando as comunicações de James Cook e Gregory, entre outros, sobre plantas narcóticas que viram mascar, fumar ou sorver em forma de pó.
Inicialmente, o tabaco era mascado ou aspirado enquanto rapé. E obteve grande popularidade (como tratamento para as enxaquecas, pneumonias, chagas, gota, raiva, e servindo até como narcotizo e aperitivo) junto de habitués como Catarina de Médicis.
No entanto, o ritual do tabaco hoje, no século XXI, está já muito longe da prática ritualista de 1500, e do glamour da belle époque.
Ao observarmos com atenção, o acto (sobretudo visual) de fumar, constatamos que desde a linguagem corporal - das mãos que procuram o isqueiro, ao próprio som particular de acender o cigarro, a cigarrilha, o charuto ou o cachimbo - há nisto uma mística hermética que transcende absolutamente, qualquer que esteja excluído desta elite nebulosa.
Descobre-se, na sedosa sensação ao toque, do retirar de uma munição da caixinha de cartão colorida, um prazer que se estranha e depois entranha. Tanto sabor nesse gesto de levar o preparado aos lábios, com laivos de chocolate e folha de tabaco que, por via do fogo, na sua ignição desprendem pedaços de uma nuvem maciça, invadindo o corpo internamente, num calor confortável e familiar.
Sejamos claros! - Numa sociedade que vem assumindo um papel, cada vez mais, de apologista (fundamentalista) das boas práticas e do exercício físico e da alimentação saudável (enquanto promove a venda de automóveis de combustão a gasolina e diesel, e de bens de consumo polutivo) pergunto-me até quando poderei - legalmente - tomar a decisão de comer bacon, e onde o posso consumir, livre de imposto?
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