XXXVII
Todos os anos, no primeiro fim-de-semana de Agosto, tem lugar na pacata "Bila de Sendim", nas terras altas de Miranda do Douro, o Festival Intercéltico que, este ano, cumpriu a sua décima edição.
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Durante 3 dias, as ruas desertas e a mítica escadaria da igreja, maravilhosamente antiquissima, enchem-se de vida e especialmente de muita gente. Chegam dos quatro cantos do país, desde o Algarve a Setúbal, Lisboa, Leiria, Coimbra, Aveiro, Porto, Braga... mas não só. Encontramos, sem dificuldade, um grande número de galegos e castelhanos, irlandeses, ingleses, e até suecos e finlandeses. Vão chegando em bandos soltos, como que largados em vagas que se arremessam instintivamente para os mesmíssimos locais. Vestem calças árabes e hábitos modernos durante a sexta-feira, primeiro dia do festival, e vão desde logo e até domingo (já mais enraizados, relaxados e menos urbanos) atafulhando a modesta vida das gentes da terra, quer com os vícios e tiques, quer com a azáfama no café central da vila, o famoso PASSAREIRO, onde amável e divertido está - como um grande chefe tribal - de bigodaça imponente e uma simpatia inesgotável, o ilustre e mui digno senhor Jorge.
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Fácil de ver é que os pouquíssimos multibancos rapidamente esgotam o seu stock. Pelo que vale a pena prevenir-se antes - não vai querer perder a oportunidade de beber uns liquídos fresquinhos, pela tarde fora, sob os impiedosos 42º do calor da montanha.
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Aconselha-se vivamente o passeio descontraído e sem pressa pelas aldeias e vilas dos arredores, onde para além de festivais paralelos de arromba (L Burro i L Gueiteiro - este ano com os inimitáveis e genuínos Galandum Galundaina, La Musgaña, Uxukalhus, e os nada menos que fantásticos Dazkarieh) e também as feiras de instrumentos musicais (gaitas de foles, sanfonas, tambores, realejos), encontra também uma flora e uma fauna absolutamente intacta e maravilhosa, oportunidade já tão rara nos dias que correm.
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Aproveitando o passeio, dirija-se a Miranda do Douro, terra dos bem conhecidos Pauliteiros. Aí vale a pena parar para jantar n'O Mirandês (o preço por pessoa ronda os 15 €). Delicie-se com a incontornável e avassaladoramente suculenta "Posta à Mirandesa", servida em quantidade medieval e com um sabor como nunca provamos até lá termos estado. Um restaurante excepcional, com um serviço e uma qualidade nos alimentos impecável!
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De volta a Sendim, antes e depois dos concertos (cujo preço do bilhete/dia são 12.50 €) dirija-se à já tradicional casa Meseta, onde - sentado nos fardos de palha que servem de banco - pode degustar a nobre gama de vinhos produzidos localmente e que foram já, inclusivamente, galardoados em mostras internacionais, cuja especialidade é o Rosé doce, verdadeiramente perigoso nos dias de maior calor por ser tão suave, fresco e delicioso (a 2€ a garrafa).
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As noites, claro está, estão reservadas às performances musicais, e do cartaz desta edição constaram nomes grandes da música Folk portuguesa como os Lenga-Lenga e a Brigada Víctor Jara. De Castilla y León veio Maria Salgado. Das Astúrias Llan de Cubel, e de Euskadi veio Korrontzi. Da Suécia chegaram os tão prestigiados Hedningarna, que tocaram sem grandes surpresas. Letárgicos e muitíssimo aquém do esperado. Bem ao contrário do que lhes exigia este festival de tradição celta na celebração do seu 10º aniversário.
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Valeu, porém, tudo o resto: a gastronomia inigualável e a preços surreais. A hospitalidade verdadeiramente tocante. O ambiente fantástico e a boa disposição dos intervenientes. O próprio facto de: num minuto, estarmos a ver uma banda a actuar no palco, e no minuto seguinte, no fim do espectáculo - descerem do plateau e virem misturar-se com as gentes, a brindar e rir descontraidamente. Usufruindo e tocando com os restantes gaiteiros e tamborileiros que vão aparecendo de um e outro lado. É tudo isto que faz com que os mais de 800 km percorridos para lá chegar valham muito a pena!
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