Translate the blog:

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rão Kyao

XXXXII
Foi ontem à noite, pelas 22 horas, ao vivo na Fnac do Vasco da Gama que "a sala se encheu de maviosidade" como ele próprio o disse.

O sopro rouco do bansuri sibilava no ar daquele ambiente intimista, impregnado de uma sensitividade tal que se sentia no corpo uma força - como uma atracção magnética - para a sua nascente.
Sentado, de túnica branca e lenço laranja ao pescoço, de semblante brando e luminoso estava o Rão. Ia serpenteando os seus dedos sábios pelos oríficios daquela cana mágica com dom de encantamento e enfeitiçando toda a trupe que ali se reuniu, com requintes de chamamento espiritual.

Soprou temas do seu novo álbum, que assim se chama: "Em'Cantado", nome que não podia ser mais adequado e perfeito para essa fusão natural entre o fado e a música indiana - ambas particularmente próximas pela tónica sempre profundamente emotiva com que se expressam - como tivemos oportunidade de debater, em conversa descontraída, no final da performance.

Ladeado por uma guitarra portuguesa bem executada por um cavalheiro de olhos pintados e ar de marialva cujo único nome de que dispomos é Paulo (dada a sua fuga repentina), e com direito até a alguns apontamentos em jeito de diálogo intrumental (a fazer desejar ali Júlio Pereira), e ao piano por Renato Runior, músico do álbum, com uma enternecida suavidade e leveza tocante.

Mas Rão Kyao vem de trás, de longe, é antigo como as flautas que toca, não em idade humana mas nesse fabuloso milagre que opera, essa transubstanciação da vivência para a música e da música para a vida, sendo ambas uma.
Pode parecer confuso, ou intrincada esta explicação, talvez até demasiado longinqua: serve só para que se entenda claramente que é impossível dissociar o Homem da Arte e Arte no Homem.

O percurso do Rão começou no jazz, mais propriamente no saxofone tenor, e foi sofrendo evoluções - em última análise para uma mestria virtuosa do bansuri (instrumento que estudou na Índia, para onde viajou na década de 70) - fruto das suas experiências de vida e dessa procura etnográfica pelo elo de ligação entre a música a oriente (como é o caso da indiana, árabe e chinesa) e a música de raiz tradicional, na sua vertente mais pura do folk português.


sábado, 14 de novembro de 2009

Depeche Mode

XXXXI
Depois de um breve (ou não) forçoso interregno:
os Macaquinhos no Sotão estão de volta!
.
- Alcançamos uma importante e esforçada vitória numa luta terrível contra as maléficas forças opressoras que ousaram tentar sufocar este paladino da Verdade e da Loucura (que tantas vezes caminham de mãos dadas)!
- Descansem porém amigos, as vossas inquietas mentes que, tal como os gatos, nós no Macaquinhos caímos de pé.
E à semelhança desses nobres felinos, temos 7 ou mais vidas para continuar a resistir!
.
*
.
Para celebrar decidimos brindar-nos com algo há muito esperado.
Ditou a sina que fosse o concerto (malogrado no Porto, por ocasião do festival Super Bock Super Rock) dos irresistíveis Depeche Mode!
Fizemos questão de ir muitíssimo bem acompanhados (aproveito para agradecer a gentileza e simpatia do senhor Pedro Caetano), e de abrir as hostilidades no apinhado Vasco da Gama, com um panado e duas imperiais (dois finos - se o leitor for tripeiro)! (mais tarde - se me apetecer - incluiremos as fotos do buffet!)

Eram cerca das 20h30 GMT quando começamos a dirigir-nos para o local do evento, banhados por todos os lados por gente vestida de negro com pinta de góticos chic, numa versão muito DepecheModeana da coisa. Encaminhamo-nos falando de albuns antigos e outras experiências ao vivo da banda, em particular desse génio de composição e letrista que é Martin Gore e do carisma de Dave Gahan que dá vida e corpo e ainda mais substância às letras, tudo debaixo de uma chuva miudinha que não incomodava.

Chegados ao recinto, como por milagre, as cervejas tinham evaporado - perante o dramatismo da circunstância vimo-nos obrigados a negociar mais umas, bem fresquinhas com um tal de "Super Man", passeando-se bem na nossa frente - que era na verdade o aguadeiro da Super Bock - essa nobre profissão. Ele insistia roboticamente em servir-nos naqueles copinhos de plástico anoréticos (vulgo 20 cl) mas lá conseguimos trazê-lo à sua forma humana e convencê-lo de que os nossos (33 cl) eram prescritos pelo médico por causa das desidratações muito comuns neste tipo de eventos - isso e o olhar tresloucadamente assustador do meu amigo Caetano convenceram eloquentemente a criatura que, sorrindo, lá assentiu na medicação (tão necessária) para assistir a Gomo - não desfazendo, coitadinho(s) - que até tocaram bem, e teria sido delicioso não fosse a ansiedade para assistir a DM.

Coube, precisamente ao(s) Gomo abrir o espetáculo - segundo se apurou - através de um concurso. E fizeram-no muito bem, para uma casa a meio gás onde o volume estridente criava uma atmosfera meio estranha, num Pavilhão Atlântico ainda muito modesto por volta das 21 horas - não obstante, o agradável som eclético, apelativo e abrangente ia mergulhando em temas cuja sonoridade bem podia ser confundida com Placebo, Beck, ou até mesmo James. Performance muito interessante e que nos deixou com uma melhor impressão da banda.

Mas se havia espetáculo nessa noite, daqueles memoráveis e que se inscrevem nas memórias pela excelência e intimista sensibilidade, esse desvelou-se na abertura ao som de In Chains... a partir desse momento o mundo exterior parou e embarcou-se numa viagem intensa e hipnotizante pelo universo sensual e glamouroso de Depeche Mode com a presença de muitos dos temas do novo album, mas muito muito do que Depeche nos deu nos últimos 30 anos. Peças de grande profundidade poética e beleza singular como é o caso de World in my Eyes, Behind the Wheel, Enjoy the Silence, A Question of Time, Walking in my Shoes, Personal Jesus, Never Let me Down, Policy of Truth, I Feel You, Precious, Wrong, Stripped...

Como não podia deixar de ser - e para regozijo e gáudio dos nossos ilustres leitores - aqui ficam algumas das pérolas musicais dessa noite, apenas possíveis graças às gravações clandestinas dos mafiosos a quem, desde já, tão graciosamente agradecemos humildemente!
.
*

WORLD IN MY EYES


.
*
ENJOY THE SILENCE


.
*

POLICY OF TRUTH


.
*

PERSONAL JESUS


.
*

PRECIOUS

.

Macaquinhos no Mundo: